Uma Coisa e Outra
Quem sabe se possa tratar do que Drummond nos prometeu: “a vida simplesmente, sem mistificação”?
Foto de Lightscape na Unsplash
Esta newsletter destina-se a umas coisas e a outras coisas. Por isso se chama Uma Coisa e Outra. Não será monotemática. Será, quem sabe, um espaço para respirar em paz, conversar um pouco e sorrir sem indulgência, só por alegria. Que, creio, ainda é possível.
Destina-se, por exemplo, à leveza. Em um mundo polarizado, entupido de fakes de todos os tipos, definido pela locução pós-verdade, organizado pelo consumo de tudo, inclusive de corpos, subjetividades, pessoas, o peso achata. A leveza que dança, a estrela bailarina de Zarathustra, a aurora de pés de pomba de Homero fazem falta. E como existem, eu sei, pessoas leves, a ideia de fazer com elas comunidade pode ser um encantamento e uma estratégia de passagem para fora da vida ruim. Por isso aqui haverá poesia, o espírito da música passará, pequenas crônicas dirão pequenas coisas, a realidade, dura ou gentil, de vez em quando estará presente e nua. Será um lugar de pôr mãos leves sobre a tristeza e o sofrimento. Um lugar amoroso, que goste de usar a linguagem para dizer coisas, para fantasiar coisas, para pastorear amizades.
Destina-se também, essa newsletter, à dureza com que merecem ser tratadas as pessoas que produzem a tristeza e o sofrimento. Os inimigos da vida. Os torturadores dos corpos, os espoliadores da natureza, os que não amam, os que humilham. Os que semeiam pobreza e desalento. Os que vivem do espírito do peso.
Uma coisa e outra. Porque a vida usa máscaras de rir e chorar, como no teatro antigo, e aqui não será um espaço de esconder a vida. Quem sabe se possa tratar do que Drummond nos prometeu: “a vida simplesmente, sem mistificação”?
Tudo misturado. Quando a noite vem devagar o dia devagar se retrai. Quando o dia retorna à luz, a noite vai embora para o seu mistério. Mas há dois curtos momentos em que se tocam e se misturam. São os instantes da maior beleza. A um chamamos crepúsculo, ao outro aurora. Assim eu gostaria que fosse aqui. Nada monocórdio, como uma noite sem dia (e também sem noite, não há noite se não estiver vindo o dia por aí). Leveza e severidade sem peso. Um lugar em que não se grite.
De cada vez sua coisa. Um pouco disso, um tanto daquilo. Uma Coisa e Outra.
Ficou bonita...
Adorei!