Em nome do fundador
Publico aqui a fala que fiz em homenagem ao meu mestre Emmanuel Carneiro Leão nas comemorações de 50 anos da Pós da ECO/UFRJ*. Foi difícil de escrever. É um jeito de ficar mais um pouquinho com ele.
Deixem que conte uma história muito pessoal. Ou a minha interpretação muito pessoal, e, para mim, profunda como um bom abismo, que se passou em público e pode ter parecido a muitos um ato apenas burocrático. Burocrático foi mesmo. Apenas, de modo nenhum. Foi assim.
Entrada da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ, que Emmanuel Carneiro Leão ajudou a construir no Palácio Universitário no Campus Praia Vermelha | Foto: Artur Moês (Coordcom/UFRJ)
Falar em nome do fundador é como dizer o nome do ancestral. Ninguém sabe. Usamos palavras para indicá-lo e reverenciá-lo, dizemos um ele especial, e todos entendem. Citamos seu nome civil, que é um grafismo num papel burocrático. Falar em nome do fundador pede um silêncio especial, de memórias e alegrias, que depois, quando vem à tona das palavras, não há palavra que diga. Tão mais fácil falar da fundação... Objetiva, cheia de fatos e datas, registrável em papel e ata. Mas no descrever um objeto não há emoção e reverência. Falta a poesia da vida e a reflexão das atitudes. Esse, quase um curriculum vitae, não seria Emmanuel Carneiro Leão. É preciso então arriscar uma pequena colheita de palavras arrancadas de dentro do silêncio a que me recolhi esses dias para ousar plantar. Tentar dizer o que soa, soa de profundo no nome de Emmanuel e nas palavras que designam os animais sagrados que o acompanham.
Aprendi com Emmanuel o carinho com ser. Não apenas no abstrato da filosofia que nos ensinou, a tantos de nós aqui — o Ser, essa indizível coisa alguma. Foi mais do que isso, foi o serem as coisas, todas as coisas, das mais miúdas plantinhas ao colossal universo. Que tudo seja, e não, antes, não seja, é mesmo objeto de espanto. E, desconfio, para Emmanuel foi constante motivo de carinho. Foi e é. Porque ele a legou a nós, essa lida amorosa e cotidiana com a existência. As coisas aí estão, e nos desafiam com seu ar opaco. E as palavras que devem nomeá-las às vezes zombam dos nossos esforços arrogantes, tantas vezes patéticos. Como escreveu Drummond, no seu poema Procura da poesia, em que trata justamente das inalcançáveis palavras: “Chega mais perto e contempla as palavras. / Cada uma / tem mil faces secretas sob a face neutra / e te pergunta, sem interesse pela resposta, / pobre ou terrível, que lhe deres: / Trouxeste a chave?” — Há chave para o nome do fundador, do longínquo e tão próximo ancestral, aqui entre nós? Vamos apostar no amor para tentarmos essa travessia.
Uma das coisas mais preciosas que Emanuel nos ensinou é que não chegamos às coisas se não pelas palavras. As palavras não existiram sempre. Foram sendo criadas — seus amados gregos inventaram as mais fundamentais — à medida em que se precisava falar de coisas novas. Criadas significa: vieram uma primeira vez, luminosas, sim, mas inseguras, ainda banhadas do orvalho da noite em que estiveram retidas. E as coisas, até então pagãs de sentido, subitamente brilharam. Como se as palavras, ao mostrá-las, se fizessem as próprias coisas mostradas. Esse foi seu — das palavras e das coisas — momento originário. Sua instauração poética. — Depois, sabemos, foram sendo usadas, começamos a acreditar que sabemos o que devem dizer (conhecemos seus sinônimos e antônimos), entraram no circuito rápido da comunicação. Perderam sua natureza risonha e lenta. (Dar nome ao que é deve ser lento, não se improvisa, as coisas reclamariam e não se deixariam dizer.) Entraram, entram, nos circuitos da comunicação, de que nesta casa se trata. Sua originariedade de orvalho, seu frescor de novidade recém-insinuada de dentro do silêncio aí se perde, quando julgamos sabê-las e já não percebemos que elas nos pedem uma chave — ou se fecham, e sobrevém a algaravia, o tagarelar dos fluxos sem sentido em que hoje vamos sendo arrastados.
Por isso, contra isso, Emmanuel nos ensinou a grande pergunta. Não o que é?, mas o que diz? Quantas vezes o ouvimos nos devolver a questão ansiosa, dessas que pedem resposta rápida — o que é isto?? — com a trava de lentidão dessa outra: o que isto diz? Isto significava então: você me trouxe uma palavra e quer que eu lhe devolva uma coisa; mas não saberemos — juntos — o que é se não conseguirmos penetrar — ainda Drummond — “surdamente o reino das palavras”. Precisamos perguntar a elas. O que dizem — não de banal e comunicável, mas de originário, secreto e há tanto tempo esquecido. Por exemplo: o que diz a palavra ser. Supomos sabê-lo. É a mais comum das palavras, porque se refere a tudo. Mas essa suposição leviana é exatamente o que leva o pensamento que reflete a procurar mais no fundo, onde as palavras não estão em estado de dicionário, mas em estado de aurora. — Essa foi talvez a mais extraordinária lição que Emmanuel nos ensinou. A mim, com certeza. Exercia-a nas salas de aula, nas conversas na sala 6, nos corredores da ECO, em que nossa angústia de não sabermos o detinha — e ele nunca deixou de responder, meditando. Começava dizendo um “olha...”, ou um “é...” que abria um mundo.
Será possível falar assim do nome Emmanuel Carneiro Leão? Não já quem é “Emmanuel Carneiro Leão”, mas o que diz Emmanuel — Carneiro — Leão, três palavras que são o nome de um único e singularíssimo ser. (Antigamente se acreditava que o nome traz consigo a coisa. Não se acredita mais, no tempo da pós-verdade, em que coisa nada mais é do que simulacro, e nome um algoritmo descarnado, operatório, sem força originária — seco, sem raiz e orvalho. Mas ele acreditou. Eu vou acreditar.)
Deixem que conte uma história muito pessoal. Ou a minha interpretação muito pessoal, e, para mim, profunda como um bom abismo, que se passou em público e pode ter parecido a muitos um ato apenas burocrático. Burocrático foi mesmo. Apenas de modo nenhum. Foi assim.
A universidade generosamente me conferiu o título honorífico de emérito. Era preciso que na cerimônia de concessão — há discursos, diploma, bóton — alguém me recebesse. E eu, suprema arrogância, convidei Emmanuel. E ele, habitual generosidade, aceitou. Fez uma bela fala, tinha a obrigação de contar um pouco a vida intelectual do agraciado. Mas terminou numa nota serena e poderosa, retirada da segunda carta de São Paulo a Timóteo, em que o grande fundador do cristianismo falou em primeira pessoa, mas o orador daquela cerimônia pôs na terceira: “Combateu o bom combate, terminou a corrida, guardou a fé.” Que coisa estonteante, essas grandes palavras desviadas na direção de um homem comum. Mais espantosas ainda quando se sabia — Emannuel sabia, conversamos sobre isso — que esse homem vivera dois terços da sua vida, até pouquíssimo tempo antes, com a fé, que tivera, perdida. Conservei a fé? Não, de modo nenhum. Mas a recuperei, o que foi um momento muito simples, sem fanfarras de anjos, mas luminoso, da minha vida. Emmanuel me deu ali as boas-vindas. E era como se dissesse — assim ouvi: — Agora você adquire a obrigação de procurar o sentido profundo de haver tudo, e não nada (que Heidegger, seu mestre, considerou a mais abissal questão da filosofia.) Era como se estivesse havendo ali, sob a palavra emérito, um investimento de mestria. Não o percebi na hora, perturbado que fiquei, mas hoje, se ele estivesse aqui, eu gostaria de poder responder: — Meu mestre, eu me esforcei ao máximo das minhas forças; eram mais fracas do que precisavam ser, não consegui; mas, nesse tempo todo, voltado para as profundidades de haver o verdadeiro — o haver verdade —, continuo tentando, contra todas as probabilidades, porque agora entendo que esse foi o sentido daquela deformação generosa da carta de São Paulo. Ele a transmitiu a Timóteo. Você, meu mestre, a transmitiu a mim, em caráter profundamente pessoal. Ou foi assim que entendi, tempos depois, o que ali se passou de — para mim — espantoso. Não gosto da palavra, é sobrecarregada de sentidos às vezes muito vulgares, a palavra missão. Mas foi assim que, tempos depois, e, digo-o não sem algum constrangimento, eu vim a entender. Uma missão. — Se eu tivesse agora a impossível oportunidade de lhe dar essa resposta, aposto que ele riria. Quem o conheceu de perto se lembrará do riso curto com que disfarçava uma emoção. Quem sabe eu tivesse emocionado o meu mestre? Não posso saber, mas me alegra pensar que sim.
Com o meu mestre nos seus 90 anos | Foto: Arquivo pessoal
Contei essa história para justificar que, depois do que disse ainda há pouco sobre palavras e coisas, eu agora vá tentar uma interpretação transcendente, se a palavra cabe, do seu nome, e isso seja, no melhor dos meus esforços, falar “em nome do fundador” dizendo o possível nome do fundador.
Emmanuel, sabemos, significa “Deus conosco”. Não é porém neste sentido estritamente religioso que vou propor que ouçamos o nome, embora quem o quiser fazer seja muito bem-vindo. Penso na nossa época e no esvaziamento de sentido (vamos pôr a palavra em maiúscula para acentuar sua direção de transcendência: o esvaziamento de Sentido) que a cultura contemporânea — globalizada pela simples eficácia, pela disponibilidade de tudo para uso e consumo, pela planetarização da técnica até o limite da simulação do humano — está produzindo há uns bons trinta anos. Heidegger, sem ter conhecido a revolução 2.0, previu esse movimento no seu ensaio A questão da técnica, que Emmanuel nos ensinou. O essencial é isto: reduzido o mundo a um mercado de tudo — tudo: coisas, valores, corpos, subjetividades, imateriais — não nos resta espaço, nem pertinência, para pormos para dentro desse mundo o antigo e longuíssimo vigor da questão do Sentido. “Que sentido tem isso?” é uma questão filosófica. Não cabe mais. Nem espaço, nem pertinência nem força restam à seita dos que indagam para além do que se vê, toca e usa com eficácia. O nome habitual dessa questão tornada (dizem-nos os que têm hoje o poder de dizer e fazer acontecer o que dizem) inadequada e incômoda tem sido verdade. É uma palavra que toda a minha vida me emocionou, de fato emocionou, mesmo quando a vejo apenas escrita. A verdade, coisa de tanta beleza... Não há mais, é a resposta impaciente dos que ocupam a vida com coisas realmente sérias, as que produzem efeitos consumíveis — e imediatos. (Mesmo as agências que deviam apoiar o pensamento e a arte cederam a essa extrema simplificação.) Não há mais o que por vinte e seis séculos levou o belo nome de verdade. Alétheia, o aparecer que oculta, como o crepúsculo esconde o dia quando a noite avança — mas o dia está lá, e a aurora o resgata quando a noite se retrai. Que linda dança essa de manifestação e escondimento, ser e parecer, realidade e aparência que a civilização ocidental experimentou por tão longo tempo! A época em que se diz que os fatos valem menos do que as convicções, opiniões e crenças, a nossa época, terá talvez encerrado essa longa duração. Talvez estejamos em trânsito para outra civilização, em que a verdade não seja mais requerida, nem tolerada. Em que tenha se tornado no máximo uma saudade nostálgica da seita dos filósofos e poetas.
Pode ser. Um dia saberemos, e talvez seja tarde. Para não sofrermos esse triste entardecer sem sol é que ainda podemos explorar a sobrevivência do Sentido, essa transcendência sangrada no coração. Porque todas as vezes que alguém, desavisadamente, pergunta pelo significado de uma coisa, uma frase, uma conjuntura — o Sentido acende seu fraco vagalume. Não é possível não entender, mesmo que seja um funcionamento técnico útil e destinado ao consumo imediato, e se perguntar — ainda que no modo explicitamente tecnológico — como sair da dificuldade sem estar inquietado com a falta de sentido de uma situação. Sim, situação prática, não tem importância. Nenhuma metafísica é requerida aqui. Basta a inquietação. Quem se inquieta, se espanta, pode não saber, mas está se perguntando: que sentido essa coisa tem? E nessa inquietação fulge a verdade. Porque nela se diz que não basta funcionar, é preciso fazer sentido, mesmo que apenas técnico e prático. Toda vez que se precisa entender é necessário perguntar, às vezes com inquietação. Toda vez que alguém se inquieta é porque algo falta. Algo que no entanto está ali, invisível a olhos apenas utilitários; basta levantar um véu e o sentido aparece, e haver Sentido se restaura, e a verdade, combalida mas viva, diz sua palavra. O Sentido conosco, ainda a Verdade conosco, esse pode ser um significado de beleza para o nome Emmanuel.
Emmanuel, o nosso mestre, tem, como Zarathutra, dois animais sagrados. Zarathustra viveu dez anos na solidão da sua gruta acompanhado pelo mais sagaz dos animais, a serpente, que se fecha sobre si como a figura perfeita do círculo, e o mais orgulhoso, a águia que faz sobre a Terra o sobrevoo absoluto. Emmanuel tem seus animais no nome.
Carneiro é o cordeiro que alcançou a plenitude da sua maturidade. Quando Abraão subiu com Isaac o monte Moriá para o sacrifício que Deus lhe pedira, diz a Bíblia que o filho lhe perguntou: “Eis aqui a lenha e o fogo, mas onde está o cordeiro para o holocausto?” O cordeiro era ele. Mas o Anjo disse a Abraão: “Não estendas a tua mão sobre o menino, e não lhe faças nada (...). Então levantou Abraão os seus olhos e olhou; e eis um carneiro detrás dele (...); e foi Abraão, e tomou o carneiro, e ofereceu-o em holocausto, em lugar de seu filho”. O carneiro, o cordeiro para o sacrifício, o cordeiro de Deus.
Está aqui a ideia de sacrifício que repugna à mente laica e ao espírito moderno. Parece triste e injusto sacrificar alguém, equivocado sacrificar-se alguém. Por que, para que se faria coisa tão extrema? Poderia ser para purgar crimes e pecados. Poderia ser por vingança. Ou por propiciação. São motivos pesados. Mas há outro, que retira do sacrifício sua carga de sofrimento e o põe muito próximo da generosidade. É o de serviço. O de estar disponível. O radical indo-europeu terap (foi Emmanuel quem me ensinou) significa servir, estar a serviço. Terapeuta é quem serve. A seita judaica dos terapeutas dedicava-se, em comunidade, ao serviço da Verdade. Em cada um desses sentidos há um ato de abrir mão, de previamente concordar com a abertura à disponibilidade de ser-em-comum. Esse sacrifício não sacrifica: concede. Não retira: dá. É um ato de instituição de comunidade. A etimologia da palavra é a conjunção de sacer, sagrado, com facere, fazer. O mais sagrado fazer do serviço é a constituição do comum. A harmonia da convivência, a mais extrema abertura. E também isso, como a Verdade, nos vai faltando nesse turbulento e desamoroso tempo das polarizações sem diálogo. O sacer facere, o bom sacrifício, propõe comunidade, mas hoje viceja o individualismo; conversa, onde agora imperam palavras de ordem. É pacífico e bom, con-junta, faz conjunturas de convivência. Não foi isso, precisamente, que fez Emmanuel Carneiro Leão há cinquenta anos, e nos criou, e nos manteve unidos, e nos trouxe a esta tarde de celebração, em nome do fundador? Uma vez lhe perguntei por que participaria de uma banca que se anunciava desagradável. Podia evitá-la, se proteger. E ele respondeu, como quem mal percebe que está fornecendo um ensinamento para toda a vida: “É um serviço que a gente presta”. Hoje a palavra servidor quase que só vale para alimentar assembleias e compor reivindicações. No modo em que Emmanuel o foi, “servidor” é quem prodigaliza, concede, permanentemente oferece. Este é um belo sentido a se dar ao cordeiro, ao carneiro que não se deseja sacrificar.
Leão é o animal sagrado do mais pobre dos evangelistas, São Marcos. Sagrado: traz sob uma das patas o Livro, sobre a cabeça a auréola da santidade, e tem as asas da elevação espiritual. Pobre: porque o evangelho de Marcos, seu modo de contar a boa-nova, que é o que evangelion significa, é muito simples. Mal tem cenários. Não narra grandes milagres. É enxuto e curto. Foi escrito para anunciar que não estamos mais sozinhos na Terra: que o eterno entrou na nossa história, elevou a humanidade e humanizou o divino, veio como o cordeiro, para servir, e como a Verdade, para salvar. Morreu e não morreu — e assim morreremos e não morreremos. Não é o que estamos fazendo hoje, quando nos aventuramos a falar em nome do fundador? Afirmar, pelas nossas presenças, que são como as águas de um rio que corre há cinquenta anos, que a fonte continua lá, inalterada e para sempre? Isso é uma fonte: o rio corre e parece que passa, porque se dissolve no grande mar; a fonte não. Fonte é uma origem incessante. Não se cansa do serviço de manter as águas, de permanentemente dá-las. O rio é a fonte que caminha, que vai adiante sem descanso nem cansaço. A fonte, imóvel na sua incessância de se dar, é a verdade do rio. Assim é para nós, como o leão de Marcos, o leão de Emmanuel. Como os demais evangelhos sinópticos beberam dele, encontraram na sua pobreza o serviço da Verdade, nós nos alimentamos da sua simplicidade, da ausência de impostação da pessoa que ele foi — que ele é —, das ideias que teve e das palavras que disse. Um sociólogo estrangeiro esteve um dia na ECO e o conheceu. Comentou depois que parecia um cura da aldeia. Isso seria uma crítica de intelectual refinado. Para nós, a sua aldeia, pode ter sido uma descrição exata. Exceto que nenhum cura de nenhuma aldeia faria no melhor domingo da sua vida um sermão que valesse dez minutos de qualquer das inumeráveis aulas com que Emmanuel nos presenteou a vida inteira. O livro sob a pata do leão, esse ele guardou para nós, ensinando-nos a aprendermos a pensar. E nos deu asas, na certeza de que saberíamos usá-las. Saberemos? Teremos sabido? Que silêncio cai agora sobre nós, quando ele já não está aqui para responder...
O “laguinho”, coração da ECO/UFRJ. Emmanuel andou por lá… | Foto: Artur Moês (Coordcom/UFRJ)
*Fala proferida no dia 24 de novembro de 2023.
Bela e digna homenagem, Marcio. Emmanuel é um capítulo importante da história da filosofia brasileira!
Belíssima homenageme